sábado, 12 de janeiro de 2013

Quanto custa uma aula de Yoga?


Apesar de termos noção da faixa de valores que se paga por uma aula, o que a tradição védica diz sobre isso às vezes passa despercebido. Seja como professor ou aluno o quanto custa uma aula de yoga é sempre um assunto amplamente discutido. Alguns dizem que é muito barato pelo resultado proposto, outros dizem que o yoga e o conhecimento espiritual de uma forma de geral, deveria ser de graça. Existem alunos que só valorizam quando o preço é alto e professores que cobram baixo e acreditam que essa é a sina do professor de yoga. E por fim alguns professores que conseguem realmente viver da aula de yoga e alunos que pagam as aulas com prazer. Qual a verdade de tudo isso? Yoga deveria ser de graça?
No ocidente existe essa idéia que o conhecimento espiritual deveria ser gratuito. Talvez ela tenha surgido por influência da Igreja que por defender o “direito do homem aos céus” e propor seu trabalho de “salvação” pela causa do próximo, tenha construído na nossa mente uma espécie de dissociação entre o dinheiro e os “céus” que representa para muitos o conceito de espiritualidade. O dinheiro ainda é chamado de “demônio ou tentação”, e os monges fazem voto de pobreza, apesar de viverem em uma das instituições mais ricas na história da humanidade. Não temos nada a ganhar em criticar a história ou a Igreja e com certeza existem pessoas sinceras e vários tipos de administração para essa instituição, seria injusto condenar, porém não podemos negar que esses conceitos são muito bem enraizados na nossa cultura ocidental e nesse reconhecimento reganhamos consciência sobre esse assunto e podemos mudar.
Se não bastasse essa influência religiosa, existe ainda a influência da mentalidade capitalista. O capitalismo produz em geral dois efeitos: a supervalorização do dinheiro, tornando-o tão forte que vira uma espécie de tesouro fazendo a vida girar em torno dele; e uma paranóia coletiva, onde pensamos que todo mundo a todo o momento só quer pegar o que é nosso ou até mesmo nos enganar.
Nos dias de hoje, realmente, o dinheiro é um assunto importante para quem deseja o autoconhecimento, pois ele tem um papel importante na nossa mente e naturalmente na nossa vida. O uso inapropriado do dinheiro é um distúrbio, pois é um uso inapropriado de si mesmo. O dinheiro representa o “nosso suor”, os dias trabalhados, o esforço… E ele é tão forte e sutil que em folha de papel podemos fazer um cheque que representa todo o valor produzido por nós em uma vida inteira. Assim, para um yogi uma boa relação com o dinheiro é fundamental para ter uma mente equilibrada. E a boa relação com o dinheiro é que o fluxo de dinheiro “flua” proporcionalmente para aquilo que a pessoa valoriza.
Somos capazes de gastar 200 reais em um uma bolsa ou restaurante, mas consideramos o mesmo valor caro para uma aula de yoga. Gastamos 10.000 reais para visitar índia e não somos capazes de dar 10 rupias para um mendigo na porta do templo. E ainda queremos fazer grandes negócios até mesmo com nossos supostos amigos e parentes onde “você me dá tudo e eu não te dou nada”, queremos consultas de graça, serviços e soluções para nossas vidas. Uma “cara de pau” sustentada pela fantasia de que estamos ainda fazendo um grande favor ou que pagaremos depois de outras formas. Temos a impressão que estamos economizando no bolso, mas estamos economizando no coração e nos tornando cada vez mais alienados do mundo, separados por essa barreira do “demônio”, o dinheiro.
Na visão dos Vedas o dinheiro é considerado um Devata, um aspecto divino muitas vezes chamado pelo nome de Mahalakshmi – a Deusa da riqueza. Nessa tradição ela tem que ser sempre bem tratada para que nossos empreendimentos dêem certo seja ele qual for. Talvez alguns mestres não estabeleçam preço ou uma mensalidade, mas mesmo no coração da Índia de acordo com os Vedas não existe aula de graça, uma vida de aluno, “brahmacari”, é uma vida deseva, serviço ao mestre, onde se trabalha muito. Isso acontecia não só porque mestre e alunos moravam juntos, mas porque enquanto estudam os alunos muitas vezes não tem condição de pagar pelos seus custos. E por isso tradicionalmente ao completar o estudo a pessoa para poder casar e seguir sua vida em frente tinha que trabalhar alguns anos para pagar ao mestre, ao local de estudo e por tudo que ele recebeu.
Da mesma maneira a tudo na tradição védica existe uma troca, que não é necessariamente financeira, mas ela sempre está presente. Quando você vai ao médico ayurvédico, você paga. Quando alguém faz um ritual, os pujares e até mesmo as pessoas que ajudam recebem um dinheiro. Quando você vai ao astrólogo, você paga pela consulta. E até mesmo quando você faz aniversário, é você quem paga. Na Índia o aniversariante não recebe presentes, o aniversário é visto como uma oportunidade de oferecer comida para todos os seus amigos e comunidade. E ainda através deles, que ritualisticamente representam seus antepassados, a pessoa agradece por tudo que recebeu na sua vida.
Essa visão e jeito de lidar com o dinheiro não é transformar a espiritualidade em um comércio, mas se a pessoa for capaz de espiritualizar o  seu dinheiro, a sua própria vida deixa de ser um comércio. A verdade é que a vida é composta de muitas coisas que não podem ser compradas e muito poucas que o dinheiro pode pagar. Qual o valor de um pai? E uma mãe? Quanto custa a paz e a felicidade de uma pessoa? Quanto vale saber o remédio correto quando se está doente? Quanto custa um abraço? E um sorriso? Quanto se pagaria por mais um ano de vida?
Quando estamos lidando com yoga, não das posturas propriamente ditas, mas de tudo que esse nome comporta, da meditação, dos mantras, das pujas, do estilo de vida e do próprio autoconhecimento, existe realmente valor para tudo isso? Ninguém realmente pode pagar por uma aula, talvez a gente possa pagar o tempo do professor, ou o aluguel da sala, mas esse conhecimento vem vindo atravessando milênios em cada sementinha dos japa-malas (cordão de contas usadas na meditação), que vem passando de pessoa para pessoa, de mestre para discípulo. De verdade, ninguém pode cobrar por ele, porque ele não pertence a ninguém, e ninguém pode pagar por ele porque ele não tem preço. Então quem ensina cobra o suficiente para ter um padrão de vida aceitável e faz valer todo o seu tempo dedicado a isso, como em uma aula de qualquer outro assunto, sua contribuição é dar o melhor de si pelos alunos; e quem estuda contribuí proporcionalmente a suas capacidades, e sua contribuição é fazer com que esse conhecimento possa continuar fluindo para os próximos, como em qualquer outro assunto que se valoriza. Essa atitude de contribuição transforma o pagamento em o que é chamado de “dakshina”. Dakshina é um oferecimento, uma contribuição, a nossa parte, a nossa retribuição, o reconhecimento pelo que é dado a nós em cada aspecto das nossas vidas; e o respeito com os nossos próprios valores e as pessoas ao redor.
E nessa tradição é assim, se na forma da riqueza Deus é Mahalakshmi, na forma daquele que dá o conhecimento Deus é chamado de Dakshinamurti.
ओम् नमो भगवते दक्षिणामूर्तये नमः॥
Esse texto foi escrito por Jonas Masetti no site satsangaonline.

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